A queda da Ecológica Verde e o debate sobre pirataria de jogos no Brasil
Neste mês, a maior página de pirataria de jogos e softwares do Brasil, a Ecológica Verde, foi derrubada do X (antigo Twitter). O perfil, com mais de 220 mil seguidores, funcionava como um canal informal de acesso a jogos gratuitos — tecnicamente pirateados — e justificava suas ações como um protesto contra os altos preços dos games no país. Mesmo com os riscos legais, os responsáveis pelo projeto indicam que pretendem voltar. Mas o que isso diz sobre o acesso à cultura digital no Brasil?
4/22/20252 min read


Por que a Ecológica Verde surgiu?
Formada por jovens, muitos com menos de 20 anos, a Ecológica Verde dizia ter como missão facilitar o acesso seguro a jogos e softwares, sem envolver sites cheios de vírus ou métodos perigosos. Eles criaram até um aplicativo próprio, o EcoLauncher, apelidado de “Steam da pirataria”, mas abandonaram o projeto temendo processos judiciais.
Segundo eles, a ideia não era ensinar a burlar sistemas, mas apenas reduzir barreiras. O grupo cresceu em fóruns e servidores do Discord, enfrentando diversas derrubadas por denúncias de DMCA.
Pirataria como resistência e preservação cultural
Um dos jogos mais pedidos era Bloodborne, exclusivo de PS4 e nunca lançado para PC. A exclusividade e a falta de acessibilidade alimentam a pirataria, mas também levantam outra questão: quem está cuidando da preservação da história dos games?
A Ecológica Verde alegava disponibilizar títulos antigos ou abandonados, como Sandy & Junior: Aventura Virtual (2003), e incentivar a compra de jogos nacionais ainda ativos. Para eles, piratear certos jogos é uma forma de resistir ao esquecimento e garantir o acesso a obras que fazem parte da memória cultural brasileira e global.
A dura realidade dos preços dos games no Brasil
A pirataria de jogos no Brasil tem contexto. Títulos novos em 2024 chegam a custar entre R$ 300 e R$ 350. Mesmo com eventuais reduções de impostos sobre consoles e serviços, os jogos digitais seguem sendo altamente tributados. E com o salário mínimo em R$ 1.412, a conta simplesmente não fecha.
Segundo a Newzoo (2023), 41% dos jogadores brasileiros já usaram jogos piratas ou emulados, número acima da média mundial. A pirataria, nesse cenário, aparece menos como um crime e mais como uma necessidade de sobrevivência cultural.
Mas é legal? Ou só legítimo?
Segundo especialistas em direito digital, compartilhar links piratas, mesmo sem lucro, é crime no Brasil. O simples ato de disponibilizar conteúdo protegido pode gerar processo, multa ou reclusão. Mas a lei ainda não é clara sobre ferramentas como launchers open-source — como o EcoLauncher.
A crítica é que o direito autoral atual não contempla o uso social ou educativo da obra, apenas sua monetização. Isso deixa brechas entre o que é legal e o que é legítimo. E a Ecológica Verde opera exatamente nesse limbo.
Videogame é cultura — mas nem todo mundo tem acesso
Apesar da força da indústria de jogos — que movimentou US$ 187,7 bilhões em 2024 —, o Brasil ainda trata o game com desconfiança. Nenhuma ONG ou instituição governamental procurou a Ecológica Verde para entender sua proposta. Pelo contrário: o grupo cita falas do presidente Lula que associam videogames à violência juvenil.
Esse estigma contrasta com o crescimento da cultura gamer no país. O que vemos é um conflito: ao mesmo tempo que o jogo é reconhecido como forma de expressão, seu acesso continua elitizado.
Conclusão: a pirataria escancara um problema maior
A história da Ecológica Verde mostra que, quando o acesso legal é limitado, soluções alternativas — mesmo ilegais — ganham força. O grupo não era apenas um distribuidor de jogos, mas uma resposta à desigualdade digital no país.
Enquanto o mercado cobra caro e o Estado se omite, a pirataria vira protesto, preservação e também inclusão. O problema, talvez, não seja a pirataria em si, mas a falta de políticas que considerem o jogo como direito cultural e não só como produto.
